segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Metafísica dos Pré-Socráticos

A metafísica busca o fundamento e razão do mundo além do mundo físico e permeia a questão do ser, em especial enfrentando a questão da existência, mediante o seguinte questionamento: Quem existe?

Responder que as coisas existem é muito natural e simples, acarretando um realismo natural, por ser demasiado evidente, porquanto se examinarmos atentamente, refletindo, concluiremos que nem tudo que aparenta ser, possui realmente uma existência.

Portanto, o primeiro esforço filosófico de cunho metafísico, realizado pelo homem foi obra dos Gregos, como instrumento de discernimento entre a existência real, como uma existência em si mesmo, e a existência fenomênica ou aparente.

Os Gregos exercitaram a reflexão racional, de forma metódica, buscando respostas para a questão do ser. Duas frentes de questionamento foram os problemas de “quem existe? ” e a conseqüente questão referente a “Qual é o ser em si ?”.

Estas questões levaram os filósofos gregos a refletirem sobre o problema do ser em si mesmo e do ser em outro, buscava-se delimitar a questão do princípio das coisas. Quatro elementos materiais, a saber: água, ar, terra e fogo foram considerados elementos fundacionais do ser.

Pitágoras (570-500 a.C), quebrando a tradição materialista, apoiou-se em algo não material, para esclarecer esta questão filosófica do princípio das coisas, como sendo o número, que para ele era o princípio ordenador da realidade natural. A diferença entre as coisas encontram-se na relação numérica.

Pitágoras foi o primeiro filosofo do ocidente a defender a teoria da metempsicose ou transmigração da alma de um corpo para outro, e até mesmo para os corpos de animais, num constante ciclo até a purificação da alma. A metempsicose jê era uma doutrina professada no oriente, que trata da futura recompensa ou castigo, mediante as ações humanas. Pitágoras foi o primeiro filosofo grego a tratar desta questão, como problema filosófico, sendo que posteriormente Platão retoma e assume esta questão como explicação místico-filosófica da anamnese.

Segundo palavras do próprio Pitágoras: “As almas não morrem jamais, mas sempre deixam uma morada para passar a outra. Eu mesmo me lembro de que na época da Guerra de Troia, fui Eufórbio, filho de Pantos e cai pela lança de Menelau. Todas as coisas mudam mas nada perece. Do mesmo modo que se gravam certas figuras na cera, esta se derrete e pode gravar outras tantas, assim é a alma, sempre a mesma, apresentando contudo formas diferentes. Portanto, se o amor ao próximo não estiver extinto em vossos corações, deveis abster-se de violar a vida daqueles que podem ser vossos próprios parentes.”

Pitágoras ensinava que a alma sobrevive ao corpo e que os sonhos são comunicação entre as almas dos mortos. Compreendemos que ainda não se tratava da reencarnação conforme a Doutrina Espírita, mas representava um olhar crítico e filosófico nesta importante questão da sobrevivência da alma.

Heráclito, por sua vez, declara a idéia do fluir da realidade, pois tudo está em constante mudança, não havendo nada estático. Ele desenvolveu o seguinte pensamento: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois o rio não é o mesmo, e nós também não somos mais os mesmos.” O ato existencial é um perpétuo ato de incompletude e eterno fluir. Conseqüentemente, o ser se apresenta como um constante ser e não ser, o que é ambíguo e contraditório.

Parmênides estabelece o princípio lógico do pensamento, mediante o raciocínio de que “o ser é, o não ser não é.” Tal princípio foi uma resposta ao pensamento instável de Heráclito e seu eterno fluir das coisas. Ele defende o monismo, ou seja, a doutrina da existência de uma realidade única, em contraposição à idéia de mobilismo de Heráclito. Segundo Parmênides, nada pode surgir do nada. Nada pode se transformar em algo diferente do que já é.

Parmênides estabelece os primórdios do caráter lógico do “princípio da identidade” e de “não contradição”, estabelecendo critérios fundacionais do ser, caracterizando-o como: o ser é único; eterno; sem começo; imutável; incorruptível; infinito; indivisível e imóvel. Atualmente podemos substituir o predicado imóvel pelo predicado onipresente, que fornece a idéia de que o ser está presente em todos os pontos ao mesmo tempo.

Parmênides, antecipando-se à teoria do mundo das idéias de Platão, estabelece a “Teoria dos dois mundos”. Tal conclusão é oriunda da comparação dos atributos do ser com a aparência fenomênica das coisas do mundo sensível, que são mera instabilidade, conforme afirmara Heráclito. Portanto, concluímos que ele estabelece as bases do pensamento filosófico que separa o mundo inteligível e o mundo sensível. Ao afirmar esta realidade ele teve que negar as transformações da natureza, que todo mundo podia ver com seus próprios olhos. Ele buscava desvendar todas as formas de “ilusão dos sentidos”, com base na crença da razão humana, chamada racionalismo.

O mundo sensível é aquele em que interagimos com os nossos sentidos, sendo sua essência a instabilidade da matéria, caracterizando-se como ilusório. O mundo inteligível é o mundo do pensamento, do ser caracterizado como único, eterno, imutável, infinito e imóvel.

O mundo inteligível é algo que não vemos, não percebemos pelos sentidos, mas que podemos compreender logicamente, mediante o princípio da não contradição e do princípio da identidade.

Portanto, o pensamento filosófico a partir de Parmênides vincula-se a princípios importantes para a questão metafísica do ser e da existência, acarretando a hegemonia da razão como guia para a descoberta da verdade, porquanto ele estabelece racionalmente a idéia de dois mundos, o sensível e o inteligível, estabelecendo o princípio de identidade e da não contradição. Parmênides partindo da cosmologia, que tenta explicar o mundo por meio dos elementos da própria natureza, inaugurou a ontologia, como estudo do “ser”, originando, também, o início da Metafísica, ou seja, da busca do fundamento do mundo além do mundo físico.

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