João Duque, humanista e filósofo, em sua palestra nos mostra qual é o sentido do sofrimento, como devemos compreender o sofrimento do outro, porquanto somos co-responsáveis pelos danos e males causados ao homem mediante a ação dolosa ou culpósa de outro humano, conforme podemos apreender de suas próprias palavras:
"A paixão pelo outro significa uma básica solidariedade no sofrimento do outro, na medida em que o ser humano é capaz de sofrer com o sofrimento do outro. É este o sentido habitual da simpatia ou da compaixão. Neste nível já não nos situamos na mera atração pelo outro, mas a caminho de uma responsabilização ética, embora assumida no afeto, por sermos afetados, às vezes até contra a nossa vontade explicita, pelo sofrimento dos outros. Dessa afetação passional, originaria e fundamental pode resultar explicita opção ética de sofrer com o outro, em responsabilidade por este sofrimento.
A questão da responsabilidade pelo outro é complexa. Trata-se da interpelação que ressoa da pergunta originária colocada a todo ser humano e que está em Genesis IV, 9 : “Onde está o teu irmão?”. Nesse sentido, o sofrimento do outro tem sempre algo a ver comigo, na medida em que eu sou responsável por ele. Responsabilidade que pode ser entendida no sentido de culpa, pois somos solidariamente culpados pelo que de mal os humanos podem fazer a outros humanos. Por isso, somos solidariamente responsáveis pelo sofrimento que é provocado no outro ser humano, que é, portanto, sofrido pelo outro.
Ao mesmo tempo, sentimos que somos responsáveis pela superação desse sofrimento, seja no modo prático, naquilo que pode ser feito, para que este sofrimento possa ser evitado ou suplantado, seja no modo da esperança, na medida em que esperamos que para todos sem exceção, o sofrimento não tenha a última palavra.
Essa lógica da responsabilidade que conduz ao sentimento e à pragmática da compaixão aprofunda-se ainda mais no nível da substituição, pois de fato, seja porque nos sentimos culpados pelo sofrimento do outro, que é uma culpa estranha, mas real, quando sentimos que este sofrimento será tão merecido por mim quanto pelo outro, em última instância.
Assim, o modo mais natural de nos relacionarmos com esse sofrimento é assumindo o lugar do outro, nesse sentido de relação extrema ao sofrimento do outro, a paixão pelo outro se transforma em sofrimento pelo outro, o sofrer em vez do outro. É nesse modo extremo da compaixão, enquanto substituição do outro, que se dá a passagem do sentimento de si para o sentimento do outro na paixão, como o modo mais excelso de compaixão pelo outro como tal, sem exceção. Estaríamos assim, na manifestação máxima do amor como modo supremo de existência na fé e na relação com o primordial a que chamamos Deus."
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
A filiação | Prof. João Duque 4
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O 'erro' de Damásio | Prof. João Duque 2
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Para consulta do currículo ver:
http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=9410621486613445
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